Por que o presidente Lula briga com o Banco Central
Estacionada em 13,75% desde agosto do ano passado, a taxa básica de juros virou alvo preferencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dia sim e outro também, o petista esperneia, critica a independência do Banco Central e ataca o presidente, Roberto Campos Neto.
Por que Lula faz isso? Há algumas pistas.
A mais imediata pode ser o fato de Lula acreditar no que diz – algo raro entre políticos.
O segundo motivo, provavelmente, é de ordem prática. A taxa do BC é a baliza do mercado para vender dinheiro ao governo.
Ou seja, ao detonar a Selic, o presidente da República legisla em causa própria.
A ira presidencial também pode ser uma necessidade de aceitação. Populista, Lula sabe encantar a opinião pública mediana.
Vacina política
É possível que haja outros fatores. Ao defenestrar os juros e o comando do BC, o petista lança uma espécie de vacina.
Explica-se: mais cedo ou mais tarde, o governo terá de apresentar resultados positivos na economia.
Culpar a taxa de juros, agora, caso não seja entregue o País vendido no ano passado, pode ser uma boa estratégia.
Pode ser. Mas é incerto terceirizar eventuais responsabilidades por possíveis frustrações do próprio governo.
Um teste: pergunte ao ex-presidente Bolsonaro se funcionou a vinculação do crescimento econômico pífio à “política do fica em casa” no pico da pandemia?
O que justifica
A propósito de administrações anteriores, Lula tem consciência de que recebeu uma gestão pior do que aquela de 2003, entregue por FHC.
Atualmente, há forte tendência inflacionária e de alta de juros entre as maiores economias mundiais.
A inflação brasileira está acima da meta. Baixar os juros pode pressionar o índice, via aumento do consumo.
Há, ainda, a volatilidade do câmbio e as incertezas fiscais do atual governo.
Há tempos as contas federais não fecham. Vide furo do teto fiscal.
Tudo acima somado – sem trocadilho -, justificaria a taxa de 13,75% – segundo quem entende de economia.
Briga por poder
Seguindo na linha política, a queda-de-braço de Lula com Campos Neto está relacionada, provavelmente, com poder, propriamente.
O presidente do BC foi indicado por Bolsonaro. O mandato vai até 31 de dezembro de 2024 – depois das eleições municipais.
Assim como vem fazendo em outras áreas, o lulopetismo não hesitaria em chefiar a principal instituição financeira do Brasil.
O Banco Central é independente desde fevereiro de 2021. As diretorias são substituídas por rodízio.
Por último: o presidente do BC pode ser destituído? Sim, por decisão do Senado.
Mas não é simples. É uma operação técnica e política de altos custos.
Num cálculo rápido, talvez Lula ache mais barato seguir somente reclamando.
Não custa nada.