Direita civilizada, direita xiita e bolsonarismo: a nova disputa de narrativas

Bolsonaro representaria parte da direita / Marcos Corrêa/PR

A criminosa depredação das sedes dos Três Poderes, no fatídico 8 de janeiro, foi pior do que a derrota de Jair Bolsonaro (PL), menos de três meses antes. Com o resultado eleitoral, o caminho previsto seria a organização da oposição, dentro e fora do Congresso Nacional, ao governo legitimamente eleito – e trabalhar até 2026.

Agora, com a reação coesa, forte e de alcance ainda inestimável, os envolvidos estão sendo identificados – muitos já estão presos –, serão punidos e inviabilizados, politicamente. Num cenário bem ruim para eles, isso pode ir do baderneiro anônimo ao ex-presidente da República. Por isso, está em curso uma espécie de operação “Salve a Direita”.

Em síntese, alguns líderes querem fazer a seguinte distinção: nós somos a “direita civilizada”. Não deve ser confundida com a “direita xiita” que depredou alguns dos principais monumentos da República, nem com os desarranjos bolsonaristas, cuja passagem pelo poder deixou rastro de terra arrasada.

Vai ser difícil, muito difícil fazer essa triagem. Principalmente, se as investigações em curso amarrarem os ataques à democracia, a omissão/apoio de quem deveria evitar e os mentores/financiadores. Mas essa é a tarefa. Ou quem se diz civilizado abraça a causa ou todos serão jogados na vala comum.

Interesse do lulopetismo é empacotar todos num só rótulo

Presidente Lula capitaliza atos extremos /PT/Divulgação

O jogo político de médio e longo prazos, a partir dos ataques em Brasília, está nos seguintes termos: a direita civilizada, se existir por aqui, precisa se desvencilhar dos aloprados. Essa é a margem de manobra, para que o eleitorado perceba que pode existir alternativa às forças no poder. Na outra trincheira, a centro-esquerda tem todo interesse em juntar todo mundo num rótulo só e colocar no mesmo envelope. Seria o melhor cenário para 2024 e 2026.

Um novo novo Congresso
Entre a posse do presidente Lula, no 1º dia do ano, e dos congressistas, no próximo dia 1º de fevereiro, os ventos mudaram muito. De oposição potente e conservadora, prestes a enfrentar o governo Lula 3, muitos deputados e senadores correm o risco de começarem na defensiva, por conta do 8 de janeiro. Começar se explicando ou se esquivando é sempre ruim, em qualquer tipo de debate. Poderemos estar diante de um novo novo Congresso Nacional – não mais o que saiu das urnas. Muitos já estão falando fino. E a legislatura sequer começou.

Ciumeira I
Os atentados à democracia atraíram para o centro de gravidade do governo Lula alguns personagens até então periféricos. Um deles, Flávio Dino (Justiça, PSB), foi a figurinha mais disputada no álbum da Esplanada. Para ciúme do PT, o ex-juiz federal concedeu mais entrevistas em uma semana do que quando governou, por oito anos, o Maranhão.

Ciumeira II
Enquanto isso, a mais de 9 mil km do Brasil, outra ministra, Marina Silva (Meio Ambiente, Rede) rouba a cena e recoloca o Brasil no mapa do desenvolvimento sustentável. Também em Davos (Suíça), onde participa do mesmo evento, um desengonçado Fernando Haddad (Fazenda, PT), vem tentando desfiar uma meia dúzia de frases de efeito.

A metamorfose de Arthur Lira

Presidente da Câmara deve ser reeleito em 1º de fevereiro / Marcelo Camargo/Agência Brasil

Representante maior do centrão, Arthur Lira (PP-AL) chegou ao comando da Câmara dos Deputados ladeado por operadores do poder na Casa e arredores – ministérios, segundo escalão, empresas públicas etc. Com o orçamento secreto, o alagoano passou a ser um dos homens mais poderosos do Brasil. Aliadíssimo do então governo Jair Bolsonaro (PL), manteve-se sentado em cima de 140 pedidos de abertura de processo de impeachment contra o então mandatário. Agora, no novo ciclo do poder em Brasília e com os atos extremistas, Lira faz coro aos demais líderes da República e condena, veementemente o quebra-quebra nos prédios da República. Está virtualmente reeleito.

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