Ao pedir desbloqueios, Bolsonaro olha para 2026

Presidente teve mais de 58 milhões de votos / Marcelo Camargo/Agência Brasil

Foi acertado o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL), na noite desta quarta-feira (2), pedindo para caminhoneiros desbloquearem rodovias, que protestam pela derrota eleitoral, no último domingo (30).

A tendência é, num bom cenário, as vias terem o fluxo normalizado ao longo das próximas horas e dias. Deverão ficar, se ficarem, os prosaicos e esdrúxulos piquetes pontuais em portas de quartel.

Prejuízos na logística, inevitavelmente, estão sendo sentidos. Multas registraram recordes. Há crimes sendo cometidos. Não será surpresa algum pedido de anistia.

O apelo de Bolsonaro, entretanto, mesmo que tardio, deve ser visto pelas autoridades e eleitores – de ambos os lados -, como um gesto de pacificação política – ou, no mínimo, uma trégua.

Conselhos e pressões
O silêncio protocolar do presidente derrotado, nos dois primeiros dias depois do resultado das urnas, mostra que a fala de ontem foi feita mais por conselhos e pressões do que convicção pessoal.

Aqui também há uma atitude correta. Do ponto de vista da estratégia política que a oposição ao próximo governo começa a desenhar, não fazia sentido Bolsonaro seguir sangrando.

O líder de massa que tirou 58 milhões de votos vinha perdendo estatura. O processo começou com o não reconhecimento imediato da derrota e continuou com o noticiário pesado e corrosivo contra os bloqueios.

Lição política
Os protestos após a derrota deverão servir de lição para Bolsonaro e o bolsonarismo. Se quiserem voltar ao poder, terão de ampliar seus apoios – e não reduzi-los.

O Brasil não quer o caminho do rompimento democrático, de armas e tanques nas ruas. Provavelmente, foram esses excessos que derrotaram Bolsonaro, no último domingo.

A centro-esquerda só chegou ao Palácio do Planalto, pela primeira vez, no início dos anos 2000, quando controlou os radicais e fez, ao País, gestos muito claros de estabilidade política e econômica.

Pré-candidato
O que Bolsonaro disser e fizer, daqui para frente, será fundamental na perenidade – ou não -, da liderança que se ergueu em seu entorno.

Os desdobramentos serão imediatos, inclusive, no Congresso Nacional – em princípio, mais alinhado com as ideias do atual presidente.

Bolsonaro, que já se coloca como possível pré-candidato para 2026, deve combater o que lhe derrotou, e não alimentar quem ou o quê lhe tirou mais quatro anos de poder.

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