Notas sobre a sucessão de Camilo Santana

Reeleito e bem avaliado, atual governador vem sendo exortado a permanecer no cargo até final do mandato/Ascom/Casa Civil/GE

Gratidão versus pragmatismo, cálculo político, frieza nas articulações e cenários – nacional e estadual. Estes são alguns dos ingredientes que farão parte da sopa de variáveis que levará Camilo Santana (PT) a renunciar ao mandato – no início de abril do ano que vem – ou seguir como governador, até a virada de 2022 para 2023. Para lembrar: se sair do Abolição, o petista será candidato a senador. Se ficar, comandará a própria sucessão. Como já algumas vezes dito aqui, a decisão supera, em nível de importância da disputa estadual, o peso do pleito nacional que, provavelmente, terá o presidente Bolsonaro, o ex-presidente Lula e o ex-ministro Ciro no páreo – o que não será pouca emoção.

Trabalhador, ponderado e atencioso para com os prefeitos, Camilo vem atendendo a uma fila indiana de gestores municipais que, invariavelmente, o exortam ao Senado. A linha de animação ao petista, quase unânime, deve ser vista como uma espécie de reconhecimento às ações do Estado. Até porque seria legislar em causa própria sugerir que Camilo siga no Executivo até 31 de dezembro. Mas política é política. Eles são apenas uma das pressões. Um cenário é o mandatário, muito bem avaliado, comandar a própria sucessão do gabinete onde assinou benfeitorias, afagou demandas e posou para fotos. Outra é não ter a caneta e o Diário Oficial à disposição.

Ecos da corrida de 2024 impactarão em 2022
No início do mandato do próximo governador do Estado, os atuais prefeitos estarão no meio das administrações municipais. E, com as exceções de praxe, passarão a depender, mais do que nunca, do apoio do sucessor estadual – seja ele quem for – visto que, ato contínuo às apurações de 2022, começarão as primeiras conversas sobre as eleições locais, de 2024. Essa dinâmica peculiar, já agendada, está influenciando não somente as atuais conversas de prefeitos com Camilo, mas também os acontecimentos futuros, com toda sorte de jogo duplo, traições e reviravoltas.

Fator Tasso e o boi na linha
É de uma unanimidade rodriguiana as apostas, segundo as quais, Camilo não somente deixará o governo para disputar o Senado, como está com a eleição batida. A tese é boa, com a ressalva de somente dois fatores: se ele sair e se não houver boi na linha. O boi: com pretensões reeleitorais, o senador Tasso Jereissati (PSDB) admite apoiar Ciro ao Planalto. Precisa desenhar?

Alternância a la brasileira
Toda máquina pública tem seu limite de tamanho. No Ceará, o consórcio partidário em torno do grupo hegemônico vem dando sinais de que está extrapolando as condições de atendimento a aliados. É por essas e outras que a tal alternância de poder da democracia a la brasileira, em muitas das vezes se dá via cisão de grupos, que aliados hoje, passam a se enfrentar nas disputas de amanhã.

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