Por erros próprios, CPI da Covid patina e não consegue enquadrar possíveis responsáveis

Senadores Randolfe, Aziz e Renan: cúpula do colegiado tenta encontrar seu caminho/Leopoldo Silva/Agência Senado

A CPI da Covid, até agora, fez e levou gols. Os depoimentos já colhidos, de um lado, estabeleceram um frágil nexo causal entre ações e omissões deliberadas do governo Bolsonaro com os 480 mil mortos e milhões de sequelados pelo coronavírus. Do outro, os trabalhos da comissão sofreram alguns revezes. Menos pela atitude dos senadores governistas, cujas intervenções, no máximo, geram algum tipo de confusão. Os momentos de apagão da comissão aconteceram por conta dos próprios opositores e ditos independentes. Particularmente, quando não conseguiram enquadrar os escudeiros do Planalto, deixando-os esquivar-se de perguntas, tangenciar nas respostas ou mesmo mentir.

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga, para ficarmos somente nos dois casos mais emblemáticos e que despachava e despacha, respectivamente, com o presidente da República, são exemplos gritantes. Nas três situações – considerando-se o segundo depoimento de Queiroga -, os senadores deixaram-se passar por despreparados. Mas não por falta de informação contra as versões fantasiosas, quando não ludibriosas, dos depoentes. É farta a documentação, de todos os tipos, formatos e suportes, já em poder da CPI. Mas, se continuar trancada na sala-cofre do Senado, sem garimpagem de dados, não servirá para nada.

Com sigilos quebrados, CPI deve ser prorrogada
A quebra de sigilo telefônico e telemático de várias figuras relevantes para os trabalhos da CPI da Covid é, provavelmente, a mais importante chance que o colegiado tem para rearrumar o jogo e enquadrar os depoentes que atuam em bloco para encobrir os responsáveis pelas centenas de milhares de mortes. Ocorre que o cronograma está indo para a primeira metade dos 90 dias vigentes e as informações solicitadas pelos senadores não chegarão à Casa do dia para a noite nem serão usadas de imediato. Isso significa que está pintando uma prorrogação do jogo.

Fatos concretos e consistência jurídica
Formada por muitos dos políticos mais experientes do País – todos com interesses nas eleições do ano que vem -, a CPI vai seguindo sua sina de senadores, de todos os perfis, que tentam cavar seus 15 segundos de fama em telejornais. É legítimo. Mas os trabalhos só terão consequência se o relatório final for sustentado em fatos concretos e consistência jurídica. O restante é espuma.

O Supremo e o jogo jogado no Senado
Todos perderam com a decisão da ministra Rosa Weber, do STF, pela não ida do governador do Amazonas, Wilson Lima, à CPI no Senado. Os governistas, que assim não desfocarão de Bolsonaro; a cúpula do colegiado, que vê no habeas corpus um virtual bloqueio à convocação do próprio presidente, e o Brasil, que ficará sem saber muito do que os governos estaduais teriam a dizer.

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