Com vacina própria, Brasil tentará lugar à mesa

Brasil é uma das poucas nações relevantes do mundo que não desenvolveram o próprio imunizante

Não chega a surpreender a politização em torno das possíveis vacinas com tecnologia totalmente nacional, num país em que o novo normal político é montar palanque eleitoral em cima de cadáveres humanos. Excluindo-se esse lamentável aspecto, o Brasil, a partir de agora, tenta um lugar à mesa ao redor da qual estão as grandes nações que imunizam suas populações contra o novo coronavírus com vacinas próprias. Para uma comparação menos injusta, éramos o único país dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que ainda depende de fórmulas estrangeiras para produzir o antídoto. Fica a lição para esta e as próximas gerações.

Ter a própria vacina não é uma questão de orgulho nacional, ufanismo ou outros penduricalhos. O vírus não tem bandeira nem sabe o que é o mapa-mundi. O ponto central é: a vacina brasileira, na prática, vai tirar do Brasil a necessidade de importar a matéria-prima, num contexto de uma guerra trilionária planetária, a preços draconianos, e justamente quando temos a mais desastrosa equipe de relações exteriores da nossa história moderna. No mais, o meio científico brasileiro recebeu a boa notícia entre comemoração e expectativa por mais informações sobre os estudos em andamento. De preferência, sem a politicagem de praxe.

A briga onde todos perdem e ninguém ganha
A maior cilada dos políticos brasileiros foi politizar a pandemia. A atitude matou pessoas, destruiu negócios, colocou o Brasil de joelhos diante do mundo e, numa espécie de efeito bumerangue, está, agora, se voltando contra os próprios, que têm de combater uma crise sanitária cada vez maior, com cada vez menos recursos. A tese do quanto pior melhor costuma resultar em terra arrasada, onde todos perdem ou, na melhor das hipóteses, quando são eleitos, herdam gestões falidas, com um árduo caminho pela frente.

Políticos versus politicagem
Há quem esteja colocando muita expectativa no Comitê Contra a Covid-19, criado em Brasília, para articular uma ampla reação à pandemia. Está marcada para hoje a primeira reunião de trabalho, envolvendo governadores estaduais. Será um foro, sobretudo, político, formado por políticos. Mas não precisa ser pautado pela politicagem.

O centrão sendo centrão
Uma espécie de adjetivo da política nacional, o centrão no Congresso Nacional, com apurado instinto de sobrevivência, já percebeu que o barco do governo Bolsonaro está fazendo água. O comitê anti-covid é um gesto de quem quer salvar um governo ao qual pertence. Mas não afundará junto. Foi assim desde a redemocratização.

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