Por que a decisão de Fachin empurra o Brasil para reedição de 2018

Da coluna Erivaldo Carvalho, do jornal O Otimista, desta quarta/10:

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin / DIVULGAÇÃO

No último dia 3 de fevereiro, este colunista publicou o seguinte raciocínio, ao analisar a vitória do presidente Bolsonaro na disputa pelo comando do Congresso Nacional, que por tabela desmontou o embrião de articulação partidária que poderia enfrentá-lo dali a 18 meses: “desde ontem, a esquerda raiz passou a enxergar no esfacelamento da potencial frente a chance de voltar a ser hegemônica. Por esse raciocínio, no limite, Lula seria o símbolo do enfrentamento ao bolsonarismo. Anotem: se isso acontecer, será um repeteco de 2018. É tudo o que Bolsonaro quer”. Nesta segunda, Edson Fachin transformou o “no limite” em possibilidade.

Universalmente, qual o pré-requisito número um na criação de um herói – ou mito, para usar uma palavra que está mais na moda? Acertou quem citou vilão. Isso mesmo. Sem a figura de um inimigo externo que precisa ser enfrentado e derrotado fica muito difícil aglutinar forças e reunir em torno de si os rebanhos de seguidores. O lulo-petismo passou trinta anos na ladainha. Do monstro da inflação ao FMI; dos 300 picaretas no Congresso à elite atrasada; da corrupção (acreditem!) ao neoliberalismo tucano. Agora, é o bolsonarismo. A propósito, o presidente usa a mesma estratégia retórica contra a “bandalheira” do PT e Lula, como já antecipou.

Terceira fase: culpabilizar Moro
Com a centro-esquerda esfacelada e Lula elegível, entra em marcha a terceira fase de um plano com começo, meio e fim: provar que o então garoto-propaganda da Lava Jato, o hoje ex-juiz Sérgio Moro, estava de conluio contra o ex-presidente. Por quê? Elementar, meu caro. Se isso for provado, toda a cesta de maçã estará podre. Será jogada, inteiramente, fora. Ou seja, tudo contra Lula será empurrado ao marco zero. Nenhum processo será retomado. Até lá, muito perderá força, cairá no esquecimento ou, simplesmente, prescreverá. Simples assim.

Centro esvaziado, polos inchados
Nas décadas dos anos 1990 e 2000, era modismo político no Brasil chamar a polarização PT x PSDB de Fla x Flu. Agora, é o “Nós contra Ele”. Isso serve para o bolsonarismo e o lulo-petismo. O sentido é o mesmo: uma polarização insana, que afasta ou ofusca, quando não silencia, talentos ponderados, que veem na via central a superação desse ambiente tóxico.

O risco das fronteiras borradas
Tanto no bojo quanto no contexto da decisão de Edson Fachin, é impossível saber onde termina o direito e começa a política e vice-versa. Não é um bom sinal. Se essas fronteiras estão borradas, significa que, por um lado, o poder político está interferindo em decisões judiciais ou a Justiça está decidindo quem poderá ser ou não candidato a presidente da República.

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