A relação Bolsonaro-centrão à espera do primeiro teste

De mãos dada com o centrão, Bolsonaro se encaminha para a reeleição

Passada a sucessão para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados e do Senado da República, o Congresso Nacional parece ter, finalmente, voltado os olhos para o Brasil real – da pandemia horrorosa, da desigualdade socioeconômica, de uma economia que não aguenta mais o Custo-Brasil e de uma sociedade que cansou de carregar nas costas um Estado gordo e perdulário. Em outras palavras, as gestões de Arthur Lira (PP-AL) e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) têm uma agenda. Isso, para o bem ou mal da relação com o padrinho político, que já demonstrou, em inúmeras ocasiões, que não convive bem com aliados afeitos a holofotes.

Esse é o ponto. Não há somente a agenda de Lira/Pacheco que, como políticos que são, olham para muito além do que é votado em comissões e plenários. Do outro da Praça dos Três Poderes, Bolsonaro, pelos menos motivos, também tem sua agenda, com pontos de aderência, divergências e inversões de prioridades, em relação ao Congresso. Foi por essas e outras, que na medida em que o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) puxou para si o debate sobre o combate e prevenção à pandemia, ele e o presidente da República afastaram-se. Só há um porém: os líderes do centrão são muito mais profissionais do que o hoje ex-presidente da Casa.

Interesses e casamento de conveniência
A relação de Bolsonaro, que tudo indica tentará reeleição, e o centrão, que está no topo do poder em Brasília, será, particularmente, interessante. Se a economia não melhorar muito, a tendência é o Executivo ficar refém do Legislativo, tanto do ponto de vista de agenda positiva quanto de aliança política. Isso, mais o fato de o grupo que está no poder no Legislativo ter o pragmatismo como regra, não será surpresa se cada votação for uma agonia política. Desse ponto de vista, a relação entre os dois poderes será uma espécie de casamento de conveniência, com mais crises do que afagos.

O normal que não acontecerá
A sensação que paira é de que o governo Bolsonaro está em outro momento, com canais com o Congresso destravados e respirando um tanto quanto aliviado. Em circunstâncias normais, o presidente da República pegaria carona na situação, para organizar o meio de campo do governo e se preparar para o embate eleitoral, que já começa a pintar no horizonte. Mas, com ele, é difícil o normal acontecer.

Tributária com muitas chances
Nas mesas de Lira e Pacheco estão duas reformas primordiais para o Brasil: tributária e administrativa. Vai ganhar quem apostar que somente a primeira poderá vingar. Simples. É pauta do setor produtivo como um todo, com congressistas defensores. A segunda, além de secundária, desse ponto de vista, é um vespeiro, que político nenhum quer pôr a mão – com exceção de Bolsonaro e sua caixa de ferramentas.

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