Como a vitória de Bolsonaro no Congresso pode repetir 2018

Sem entrar no mérito dos métodos utilizados pelo Palácio do Planalto, e conforme foi largamente argumentado neste espaço, o presidente Bolsonaro “passou a régua” na oposição no Congresso Nacional. Particularmente, na Câmara dos Deputados, onde, além de eleger Arthur Lira (PP-AL) presidente da Casa, desmontou um embrião de articulação partidária – da centro-direita à centro-esquerda -, que poderia ameaçá-lo em 2022. Vide implosão do DEM, disenteria do PSDB e racha do MDB. O mesmo não aconteceu no Senado porque lá a oposição acabou apoiando o também vitorioso Rodrigo Pacheco (DEM-MG) – nome abraçado pelo Executivo.

O resultado das urnas, que veio se formando ao longo das últimas semanas, dias e horas, não surpreendeu. Todos ali sabiam o jogo que estava sendo jogado. Agora, tanto na Câmara quanto no Senado, a oposição terá de juntar os cacos, tirar lições e refazer as estratégias. De preferência, sem setores mais à esquerda conspirando contra a própria articulação. Explica-se: desde ontem, a esquerda raiz passou a enxergar no esfacelamento da potencial frente a chance de voltar a ser hegemônica. Por esse raciocínio, no limite, Lula seria o símbolo do enfrentamento ao bolsonarismo. Anotem: se isso acontecer, será um repeteco de 2018. É tudo o que Bolsonaro quer.

Os próximos meses dirão o nível de adesão do centrão, agora no topo do poder nas duas casas do Congresso, à agenda do governo Bolsonaro, e vice-versa. Reformas, combate à pandemia/vacinação, cobertura social, retomada da economia, pauta de costumes, etc. Entre as mais variadas temáticas, há uma larga zona de contato entre os interesses de ambos os lados. Assuntos comuns não será o desafio. O problema será se cada item se transformar em um obstáculo, a ser superado, pontualmente, com negociações, condições e preços variados.

Os números da vitória falam por si
Os 302 dos 513 (58,8%) votos conquistados por Lira na Câmara e os 57 dos 81 (70,3%) obtidos por Pacheco no Senado, mostram o quanto as estratégias de cada um foi bem-sucedida. Significa, também, o tamanho da bancada com que cada presidente da Casa começa seus mandatos. É voto suficiente para aprovar quase tudo em plenário.

Cearenses em alta no Planalto Central
Com a vitória de Lira, o correligionário A.J. Albuquerque e Domingos Neto, do PSD de Gilberto Kassab, são dois dos integrantes da bancada do Ceará em Brasília que mais subiram no peso político e na conquista de espaço. São eles, atualmente, que abrem portas, fazem pontes institucionais e agendam com ministros e demais autoridades da República.

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